[crítica] Lobisomem
- Carlos Vilaça
- 15 de jan.
- 3 min de leitura

O filme Lobisomem dirigido por Leigh Whannell apresenta uma abordagem inovadora e mais introspectiva da lenda do lobisomem, distanciando-se das convenções do gênero de terror físico e optando por um thriller psicológico repleto de tensão e suspense. Em uma releitura que celebra o clássico de 1941, Whannell faz uma escolha ousada ao focar na carga emocional e nos dilemas internos do protagonista, Blake, interpretado por Christopher Abbott, ao invés de mergulhar na carnificina e no gore frequentemente associados aos filmes de monstros, e nisso o filme tenta em algumas cenas.
A decisão de substituir o terror explícito por uma análise mais profunda do psicológico humano é uma das características do longa. O lobisomem, neste contexto, é mais uma metáfora para os conflitos internos do protagonista do que uma simples criatura monstruosa. A jornada de Blake para confrontar os "fantasmas" de seu passado e sua luta contra sua própria natureza selvagem são exploradas com sutileza, tornando a transformação na criatura uma metáfora potente para a perda de controle e a luta interna contra as sombras da psique humana. A tensão psicológica que permeia o filme é um reflexo disso, com a narrativa jogando com o medo do desconhecido e com a dúvida constante sobre a realidade dos eventos apresentados.
A atuação de Christopher Abbott entrega uma performance profundamente humana, capturando a complexidade de um homem dividido entre o lado racional e a bestialidade que ameaça emergir em seu interior. O processo de transformação não é apenas físico, mas também emocional e psicológico, e Whannell consegue mostrar isso de maneira eficaz ao longo do filme, porém sinto falha na transformação física. A escolha do cineasta em utilizar apenas efeitos práticos trouxe uma característica de filme barato, mesmo com investimento da produtora. A maneira como Abbott constrói o conflito interno de Blake, mantendo uma fachada de normalidade enquanto luta contra o monstro dentro de si, é de fato um dos pontos altos da obra, mas isso não complementa com a carga que a transformação em si proporcionaria de maneira mais eficaz e fiel.
Outro destaque é a direção de arte e a estética monocromática e sombria, que contribuem para o clima claustrofóbico e melancólico da história. A decisão de situar o filme em uma única noite ajuda a intensificar a sensação de confinamento e urgência, colocando os personagens em um cenário que parece estar à mercê das forças externas e internas. Essa escolha também permite que Whannell explore as emoções dos personagens de forma mais intimista, priorizando o suspense psicológico sobre o horror físico.
A dinâmica familiar também é um ponto interessante na trama. A esposa Charlotte (Julia Garner) e a filha Ginger (Matilda Firth) oferecem uma perspectiva humana e emocional no meio do terror. Charlotte, por sua vez, é uma mulher que busca proteger o marido ao mesmo tempo em que desconfia de suas transformações, enquanto Ginger, como uma criança, representa tanto a pureza quanto a vulnerabilidade frente à ameaça da besta. A interação entre Black e Ginger, especialmente, é carregada de simbolismo, refletindo a luta do protagonista entre preservar a humanidade para proteger sua filha e ceder à sua natureza monstruosa.
Embora as atuações de Abbott e Garner sejam, de fato, o ponto forte, Matilda Firth também brilha, proporcionando momentos de tensão e humanidade com sua atuação. Sua personagem, Ginger, tem um papel crucial na história, especialmente nas cenas mais emocionantes em que o olhar da criança se cruza com o do lobisomem, acentuando a dualidade do filme.
O roteiro, por vezes, recorre a clichês e soluções narrativas previsíveis que podem quebrar a imersão do público, especialmente para aqueles mais familiarizados com o gênero. Alguns momentos podem parecer excessivamente familiares para quem já viu outras versões de histórias sobre monstros ou mitos urbanos, o que faz com que a narrativa, em certos pontos, perca um pouco de sua originalidade.
Em suma, a versão de Lobisomem dirigida por Leigh Whannell reinventa um clássico de forma convincente, ao invés de seguir a fórmula de terror gore, oferecendo uma abordagem mais intimista, focada no suspense psicológico e na exploração dos dilemas internos do protagonista. A mistura de uma ambientação sombria e uma narrativa centrada no desenvolvimento emocional dos personagens confere ao filme uma atmosfera única. Embora o roteiro não seja perfeito e alguns clichês apareçam, talvez o filme não alcance a graça do público, mas entretém de certa maneira.
Crítica: Carlos Vilaça
NOTA: 2.0/5
Comentários